Qual tipo de comparação o texto faz entre is escravos

Lista de questões sobre o período da escravidão no Brasil.
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Há diferenças, sim, mas também semelhanças. Desde o início das civilizações grega e romana, a prática da escravidão era comum - em Roma, a partir do século 8 a.C. e, na Grécia, desde a civilização micênica (1500-1200 a.C.). Nos dois casos, um homem podia se tornar escravo por ter contraído dívida sem honrá-la. Era possível, ainda, passar a essa condição por ter sido vencido na guerra. Nesse caso, a vida do inimigo era poupada para que ele fosse conservado como escravo (daí a palavra latina servus). O comércio ocorria em grandes mercados, regulado por leis que previam o direito do cativo de comprar sua liberdade de volta por meio do acúmulo de um pecúlio. Isso era incomum para os escravos do campo, mas uma opção mais realista para os que viviam nas cidades e faziam biscates. Na Grécia, era rara a libertação de um escravo e o liberto não tinha direitos. Seus descendentes continuavam escravos, e as chances de alforria eram restritas. Já em Roma, era comum que escravos urbanos fossem alforriados, e seus filhos, considerados livres. Os libertos adquiriam a cidadania romana. Outra diferença: entre os romanos, os libertos passavam a ser tratados como parentes do seu antigo dono, herdando, inclusive, seu nome de família. Em duas gerações, não havia mais distinção entre os antigos donos e os descendentes de escravos. Nas duas sociedades, havia punições e maus-tratos: eles podiam ser mantidos acorrentados, marcados a ferro, sofrer mutilações e ser condenados à morte.

Consultoria Pedro Paulo Funari, doutor em Arqueologia e professor da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).

Pergunta enviada por Rosinei Borges de Mendonça, Jardinópolis, SP

A escravidão é um tipo de relação de trabalho que existia há muito tempo na história da humanidade. Já na Antiguidade, o código de Hamurábi, conjunto de leis escritas da civilização babilônica, apresentava itens discutindo a relação entre os escravos e seus senhores. Não se restringindo aos babilônios, a escravidão também foi utilizada entre os egípcios, assírios, hebreus, gregos e romanos. Dessa forma, podemos perceber que se trata de um fenômeno histórico extenso e diverso. Em Atenas, boa parte dos escravos era proveniente de regiões da Ásia Menor e Trácia. Em geral, eram obtidos por meio da realização de guerras contra diversos povos de origem estrangeira. Os traficantes realizavam a compra dos inimigos capturados e logo tratavam de oferecê-los em algum lucrativo ponto comercial. Mesmo ocupando uma posição social desprivilegiada, os escravos tinham diferentes posições dentro da sociedade ateniense. Alguns escravos eram utilizados para formar as forças policiais da cidade de Atenas. Outros eram usualmente empregados em atividades artesanais e, por conta de suas habilidades técnicas, tinham uma posição social de destaque. Em certos casos, um escravo poderia ter uma fonte de renda própria e um dia poderia vir a comprar a sua própria liberdade. Em geral, os escravos que trabalhavam nos campos e nas minas tinham condições de vida piores se comparadas às dos escravos urbanos e domésticos. A escravidão ateniense não era marcada por nenhuma espécie de distinção com relação aos postos de trabalho a serem ocupados. O uso de escravos tinha até mesmo uma grande importância social ao conceder mais tempo para que os homens livres tivessem tempo para participar das assembléias, dos debates políticos, filosofar e produzir obras de arte. Conforme algumas pesquisas, a classe de escravos em Atenas chegou a compor cerca de um terço da população no Período Clássico. No caso da cidade-Estado de Esparta, a escravidão tinha uma organização distinta. Os escravos, ali chamados de hilotas, eram conseguidos por meio das vitórias militares empreendidas pelas tropas espartanas. Não dando grande importância às práticas comerciais, por causa de sua cultura xenófoba, a escravidão não articulava um comércio de seres humanos no interior desta sociedade. Os escravos eram de propriedade do Estado e ninguém poderia ser considerado proprietário de um determinado escravo. O Império Romano foi uma das sociedades antigas onde a utilização da mão-de-obra escrava teve sua mais significativa importância. Em geral, os escravos trabalhavam nas propriedades dos patrícios, grupo social romano que detinha o controle da maior parte das terras cultiváveis do império. Assim como em Atenas, o escravo romano também poderia exercer diferentes funções ou adquirir a sua própria liberdade. A única restrição jurídica contra um ex-escravo impedia-o de exercer qualquer cargo público. No primeiro século as relações entre o escravo e o seu senhor começaram a sofrer algumas alterações impostas pelo governo romano. Uma das obrigações essenciais do senhor consistia em dar uma boa alimentação ao seu escravo e mantê-lo bem vestido. No século I, os senhores foram proibidos de castigar seus escravos até a morte e, caso o fizessem, poderiam ser julgados por assassinato. Além disso, um senhor poderia dar parte de suas terras a um escravo ou libertá-lo sem nenhuma prévia indenização.

Essas medidas em favor dos escravos podem ser vistas como uma conseqüência imediata a uma rebelião de escravos, liderada por Espártaco, que aconteceu em Roma no ano em 70 d. C.. Nos séculos posteriores, as invasões bárbaras e a redução dos postos militares fizeram com que o escravismo perdesse sua força dentro da sociedade romana. Com a ascensão da sociedade feudal, a escravidão perdeu sua predominância dando lugar para as relações servis.

Por Rainer Sousa
Mestre em História

Ao tratarmos sobre a condição do escravo no Brasil, somos muitas vezes tentados a salientar repetidamente a situação degradante desses sujeitos históricos. De fato, o trauma causado pelo sequestro na terra natal e a imposição de uma rotina de trabalho acaba justificando tal perspectiva. Contudo, muitas vezes deixamos de salientar a possibilidade de processos dinâmicos que vislumbrem o escravo como uma figura ativa no contexto histórico em que viveu. Uma questão que pode mostrar esse escravo de outra forma pode ser vista quando tratamos das funções desempenhadas por esses durante e após o período colonial. Em geral, por conta da grande demanda inerente a esse tipo de atividade, muitos escravos eram conduzidos até as propriedades monoculturas envolvidas no desenvolvimento do mercantilismo europeu. Ao longo do dia, desempenhavam diferentes funções trabalhando nas lavouras e demais instalações da propriedade rural. Ao fim de um exaustivo dia, os escravos eram conduzidos até a senzala para descansar para o próximo dia de trabalho. Nesse local acabavam firmando laços de socialização e, até mesmo, utilizavam daquele momento para promoverem algumas manifestações culturais. Contudo, não podemos nos limitar ao ambiente da lavoura e da senzala quando falamos dos escravos. Na residência do proprietário, havia uma parcela de escravos que se dedicava ao cuidado das tarefas ligadas ao ambiente doméstico. Geralmente, esses escravos possuíam uma condição de vida relativamente melhor e acabavam também se relacionando mais proximamente com a família de seu senhor. Em algumas pesquisas, temos a descrição de situações em que escravos desempenhavam funções que só eram possíveis por meio de um laço de confiança com seu dono. Nos centros urbanos, a recorrência desses escravos domésticos também era bastante expressiva. Ao saírem de casa, algumas mulheres pertencentes à elite costumavam vestir suas escravas com luxuosas peças e acessórios para rechaçar sua condição social abastada. Não sendo um espaço ligado à exploração da terra, devemos salientar que as cidades abriam portas para que muitos escravos fossem utilizados em outras atividades econômicas. Muitas vezes, aproveitando das habilidades de um negro, o proprietário acabava transformando-o em um “escravo de ganho”. Nessa situação o escravo poderia vender “doce de tabuleiro”, realizar o transporte de cargas e pessoas, cuidar de um estabelecimento comercial ou fabricar utensílios. Geralmente, o seu dono ficava com a maior parte dos lucros obtidos ao longo do dia. A parcela destinada ao escravo poderia ser utilizada para alimentação, vestuário e, até mesmo, para a compra de sua alforria. Em outros casos também podemos assinalar a existência dos chamados “escravos de aluguel”. Geralmente, um senhor que passava por dificuldades financeiras ou não tinha meios para explorar todo o seu plantel acabava cedendo parte de suas “peças” para um terceiro, que em troca lhe recompensava com uma quantidade de dinheiro. No Distrito Diamantino, por exemplo, vemos que a própria administração colonial utilizou desse recurso para empreender a extração de pedras preciosas no século XVIII.

Por meio dessa breve explanação, observamos que a compreensão do negro como sujeito histórico vem perdendo sua tradicional imagem de “escravo subordinado”. Ultimamente, novas obras permitem valorizá-lo como indivíduo portador de suas próprias tradições. Dessa forma, a condição de escravo não mais anula sua capacidade de interferir no tempo em que viveu através de ações e estratégias que lhe concedem voz própria.

Por Rainer Sousa
Mestre em História

A assinatura da lei Áurea, em 13 de maio de 1888, decretou o fim do direito de propriedade de uma pessoa sob outra, porém o trabalho semelhante ao escravo se manteve de outra maneira. A forma mais encontrada no país é a da servidão, ou ‘peonagem’, por dívida. Nela, a pessoa empenha sua própria capacidade de trabalho ou a de pessoas sob sua responsabilidade (esposa, filhos, pais) para saldar uma conta. E isso acontece sem que o valor do serviço executado seja aplicado no abatimento da conta de forma razoável ou que a duração e a natureza do serviço estejam claramente definidas.

A nova escravidão é mais vantajosa para os empresários que a da época do Brasil Colônia e do Império, pelo menos do ponto de vista financeiro e operacional. O sociólogo norte-americano Kevin Bales, considerado um dos maiores especialistas no tema, traça em seu livro “Disposable People: New Slavery in the Global Economy” (Gente Descartável: A Nova Escravidão na Economia Mundial) paralelos entre esses dois sistemas que foram aqui adaptados pela Repórter Brasil para a realidade brasileira.

brasil

antiga escravidão

nova escravidão

propriedade legal

permitida

proibida

custo de aquisição de mão-de-obra

alto. a riqueza de uma pessoa podia ser medida pela quantidade de escravos

muito baixo. não há compra e, muitas vezes, gasta-se apenas o transporte

lucros

baixos. havia custos com a manutenção dos escravos

altos. se alguém fica doente pode ser mandado embora, sem nenhum direito

mão-de-obra

escassa. dependia de tráfico negreiro, prisão de índios ou reprodução. bales afirma que, em 1850, um escravo era vendido por uma quantia equivalente a r$ 120 mil

descartável. um grande contingente de trabalhadores desempregados. um homem foi levado por um gato por r$ 150,00 em eldorado dos carajás, sul do Pará

relacionamento

longo período. a vida inteira do escravo e até de seus descendentes

curto período. terminado o serviço, não é mais necessário prover o sustento

diferenças étnicas

relevantes para a escravização

pouco relevantes. qualquer pessoa pobre e miserável são os que se tornam escravos, independente da cor da pele

manutenção da ordem

ameaças, violência psicológica, coerção física, punições exemplares e até assassinatos

ameaças, violência psicológica, coerção física, punições exemplares e até assassinatos

Observação: As diferenças étnicas não são mais fundamentais para escolher a mão-de-obra. A seleção se dá pela capacidade da força física de trabalho e não pela cor. Qualquer pessoa miserável moradora nas regiões de grande incidência de aliciamento para a escravidão pode cair na rede da escravidão. Contudo, apesar de não haver um levantamento estatístico sobre isso, há uma grande incidência de afrodescendentes entre os libertados da escravidão de acordo com integrantes dos grupos móveis de fiscalização, em uma proporção maior do que a que ocorre no restante da população brasileira. O histórico de desigualdade da população negra não se alterou substancialmente após a assinatura da Lei Áurea, em maio de 1888. Apesar da escravidão ter se tornado oficialmente ilegal, o Estado e a sociedade não garantiram condições para os libertos poderem efetivar sua cidadania. Por fim, as estatísticas oficiais mostram que há mais negros pobres do que brancos pobres no Brasil. Outro fator a ser considerado é que o Maranhão, estado com maior quantidade de trabalhadores libertos da escravidão, é também a unidade da federação com menor Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) e a que possui a maior quantidade de comunidades quilombolas.