Conhecidas também como “disputação do doutor martinho lutero sobre o poder e eficácia das indulgências”, as 95 teses foram uma carta escrita pelo monge alemão, na qual ele discorreu sobre as indulgências. ela foi enviada, no dia 31 de outubro de 1517, para

Lista de questões feitas em vestibulares sobre a Reforma Protestante.
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Reforma Protestante é o nome dado ao movimento reformista que surgiu no cristianismo em 1517 por meio do monge agostiniano Martinho Lutero.

Reforma Protestante é o nome dado ao movimento reformista que surgiu no cristianismo no século XVI. Esse movimento iniciou-se a partir de Martinho Lutero, um monge católico que estava insatisfeito com algumas práticas e questões teológicas defendidas pela Igreja Católica. A atuação de Lutero teve como ponto de partida a divulgação das 95 teses, que rapidamente espalharam-se pela Europa e deram origem ao reformismo no seio da Igreja Católica. Da atuação de Lutero, surgiu o protestantismo.

Causas da Reforma Protestante

A Reforma Protestante teve causas relacionadas a aspectos políticos, econômicos e teológicos e resultou da corrupção existente na Igreja Católica. Além disso, teve resultado de interesses políticos oriundos de nobres que viram na reforma uma possibilidade de romper o vínculo de autoridade com o papa. Por fim, foi imposta a questão dos interesses econômicos, uma vez que a Igreja estipulava a cobrança de impostos de todos seus fiéis.

No aspecto teológico, o ponto imediato a ser destacado é a insatisfação de Martinho Lutero com as práticas da Igreja Católica. A Igreja de Roma era, naquele período, a maior autoridade da Europa Ocidental e detinha um imenso poder, uma vez que era dona de terras e riquezas gigantescas.

Além disso, a autoridade do papa impunha-se além do campo religioso, alcançando o campo secular (político). Os reis da Europa tinham seu poder sustentado pela autoridade da Igreja, uma vez que era praticamente impossível manter-se no comando sem a aprovação do papa. Sendo assim, a Igreja Católica possuía o monopólio da vida política e religiosa europeia.

Focando no aspecto teológico, muitos começaram a questionar as posições da Igreja. Antes mesmo de Lutero, já havia existido na Europa movimentos religiosos e figuras do clero católico que questionavam determinados princípios do catolicismo. A longo prazo, pode-se ressaltar, por exemplo, os valdenses, que surgiram na França no final do século XII.

Em um período imediato, isto é, poucos anos antes do início da reforma, existiram os pré-reformadores na Europa, que teceram críticas à Igreja de Roma. Dois nomes que se destacaram nesse contexto foram John Wycliffe e Jan Hus. O primeiro criticava o acúmulo de poder político e os desvios da Igreja dos verdadeiros ensinamentos de Jesus. O segundo tecia críticas parecidas contra o enriquecimento da Igreja e a venda de indulgências.

Em relação às questões políticas, existia uma série de reis, nobres e autoridades em geral que estavam interessados em romper o poder secular com o religioso. Isso significa que muitos viam o rompimento como uma forma de consolidar ou de assegurar mais poder sem a necessidade de ter que se sujeitar a outra autoridade – no caso, o papa.

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Nas questões econômicas, há de se destacar que, na região norte da Europa, havia uma insatisfação muito grande com a quantidade de impostos que deveriam ser repassados para a Igreja. Tal questão intensificava-se em um contexto em que as penínsulas Itálica e Ibérica estavam em franco desenvolvimento e enriquecimento, enquanto regiões como a que corresponde à atual Alemanha eram pobres e enfrentavam dificuldades econômicas.

Martinho Lutero

A insatisfação e as críticas à Igreja Católica tiveram seu ápice em Martinho Lutero, monge agostiniano e professor de Teologia. Lutero estava insatisfeito com certas condutas da Igreja, sobretudo com as indulgências, que eram comuns na Igreja Católica da época. Nesse contexto, essa prática acontecia por meio dos dízimos feitos pelos fiéis para a Igreja em troca do perdão de seus pecados.

Além disso, o papa Leão X havia oferecido indulgências para aqueles que contribuíssem com dinheiro para a construção da Basília de São Pedro. Lutero tinha também discordâncias de conteúdo teológico a respeito da salvação e de outras práticas e ações da Igreja. Com isso, o monge elaborou um documento conhecido como 95 teses.

A partir de então, as ideias de Lutero espalharam-se pela Europa com rapidez. Nesse momento, a intenção de Lutero não era romper com a Igreja Católica, ele queria apenas que se realizasse uma reforma em determinadas questões. O rompimento de Lutero com a Igreja Católica só aconteceu quando foi excomungado pelo papa, em 1521.

95 teses

As 95 teses, documento no qual Lutero manifestava sua oposição teológica às práticas da Igreja de Roma, foram enviadas para o arcebispo de Mainz, Alberto de Brandemburgo, em 31 de outubro de 1517. A intenção de Lutero era levantar um debate para que reformas dentro da Igreja acontecessem.

Martinho Lutero defendia, basicamente, que a Bíblia era a única referência para os fiéis e que as pessoas conseguiriam ser salvas sem a mediação de intermediários e sem precisar dar indulgências. A base teológica de Lutero baseava-se em um versículo bíblico que afirmava que “o justo viverá pela fé”. Aqui, Lutero passou a defender a ideia de que não eram as boas ações que salvariam uma pessoa, mas sim a fé.

A construção teológica iniciada por Martinho Lutero deu origem a um princípio conhecido como Cinco Solas:

1. Sola fide (somente a fé)

2. Sola scriptura (somente a Escritura)

3. Solus Christus (somente Cristo)

4. Sola gratia (somente a graça)

5. Soli Deo gloria (glória somente a Deus)

As 95 teses espalharam-se com rapidez pela Europa por conta da imprensa (criada em 1430 por Johann Gutenberg), a qual permitia a cópia e a impressão de livros em uma velocidade inédita para a época. Com isso, as ideias de Lutero propagaram-se e conquistaram seguidores em toda a Europa.

Um registro importante é a famosa imagem de Martinho Lutero pregando as 95 teses na porta da igreja do castelo de Wittenberg. Muitos consideram esse o ponto de partida da Reforma Protestante, mas os historiadores nunca conseguiram comprovar se esse episódio de fato aconteceu. Portanto, os historiadores consideram esse fato somente uma lenda.

Primeiros reformadores da Reforma Protestante

Antes de Lutero, já havia casos de cristãos que contestaram princípios e práticas da Igreja Católica. No século XII, a partir das pregações de Pedro Valdo, surgiram na França os valdenses, que se espalharam pelo norte da Itália, sobrevivendo às perseguições da Igreja Católica.

No caso específico da pré-reforma, os historiadores destacam Jan Hus e John Wycliff, que questionavam a riqueza da Igreja, a acumulação de poder temporal e a corrupção existente no clero. Caso tenha interesse em ampliar seus conhecimentos a respeito desses precursores da Reforma Protestante, sugerimos a leitura deste texto.

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Protestantismo

Da atuação de Martinho Lutero, surgiu o protestantismo, vertente do cristianismo que rompeu com a Igreja Católica. Como citado, o rompimento de Lutero com a Igreja Católica aconteceu a partir do momento em que foi excomungado e passou a ser perseguido por ela.

As ideias de Lutero espelharam-se pela Europa, resultando na conversão de milhares de pessoas e no surgimento de outros reformadores, como João Calvino. Com isso, o protestantismo foi consolidando-se como vertente religiosa, e dele nasceram diversas igrejas e denominações protestantes.

Atualmente, existem várias denominações cristãs oriundas do protestantismo, como os batistas, os presbiterianos, os metodistas, os luteranos, os calvinistas, os anglicanos, etc. No Brasil, mais de 20% da população identifica-se como “evangélica”, denominação que agrupa igrejas teologicamente nascidas do protestantismo.

Aproveite para conferir nossa videoaula relacionada ao assunto:

A reforma protestante foi um movimento reformista iniciado quando Martinho Lutero escreveu um documento conhecido como 95 teses. Essa reforma foi motivada pela insatisfação de Lutero com as práticas e alguns princípios teológicos praticados pela Igreja, sendo um de muitos movimentos do tipo que aconteciam na Europa desde a Idade Média.

A ação de Lutero não teve como propósito a ruptura com a Igreja, mas tal rompimento aconteceu de todo modo como reação dessa instituição contra o monge alemão. A reforma protestante deu início a outros reformismos religiosos na Europa e também foi impulsionada por motivos políticos e econômicos.

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Contexto da reforma protestante

A reforma protestante ocorreu em um contexto de grandes transformações sociais, políticas, culturais e econômicas na Europa. A formatação da Europa nos moldes medievais estava em declínio e novas realidades estavam surgindo. Era uma Europa que via o comércio desenvolver-se e novos interesses políticos surgindo.

Tratou-se de um período de mudanças culturais, pois a cultura renascentista defendia a ideia do homem no centro de todas as coisas como forma de quebrar a grande influência religiosa. As artes encontravam novas formas de expressão e o conhecimento científico avançava. A invenção da imprensa, no século XV, foi um fator crucial, pois garantiu maior produção de livros e ampliou a circulação de ideias.

No campo religioso, a contestação da Igreja Católica era uma prática que vinha acontecendo desde meados da Idade Média. Esses movimentos religiosos questionavam a falta de moralidade, o abuso do poder, a avareza, a corrupção e todo tipo de desvio comuns na Igreja Católica na Europa. Alguns historiadores entendem, por exemplo, que os valdenses, surgidos na França, no século XII, já eram um movimento reformista.

Outros destaques são John Wycliff e Jan Hus, dois nomes que questionaram as práticas da Igreja nos séculos XIV e XV, respectivamente. As críticas realizadas por ambos iam em caminho semelhante às de Lutero: questionavam o acúmulo de poder e os desmandos de Roma, criticavam os desvios dos ensinamentos contidos na Bíblia, a venda de indulgências etc.

Causas da reforma protestante

O monge agostiniano Martinho Lutero não concordava com as práticas da Igreja e por isso teceu críticas por meio das 95 teses.

Entendemos que a reforma protestante foi um movimento reformista iniciado por Martinho Lutero em 1517. O contexto em que Lutero estava inserido é que nos ajuda a entender o porquê de o movimento iniciado pelo monge alemão ter tido sucesso, diferentemente dos outros movimentos reformistas que aconteceram, como os já mencionados.

Primeiramente, é importante conhecermos o que motivou Lutero a manifestar-se contra as práticas vigentes da Igreja naquele período. Ele era um monge agostiniano e professor de teologia, portanto, era um membro do clero. Não obstante, ele não concordava com certas práticas realizadas no século XVI, e sua inquietude a respeito disso levou-o a posicionar-se.

Um dos seus maiores questionamentos era sobre a venda de indulgências, prática em que a pessoa ofertava dinheiro em troca do perdão pelos seus pecados. Sua indignação era reforçada pelo fato de que o papa Leão X havia oferecido indulgências para todos que contribuíssem financeiramente para a construção da Basílica de São Pedro.

Lutero também criticava a venda de cargos eclesiásticos e a venda de relíquias sagradas, ambas conhecidas como simonia. Suas críticas davam-se porque a ideia que o movia, teologicamente falando, era a de gratuidade da fé, isso quer dizer que ele não acreditava que obras, como pagar pelo perdão concedido pelo papa, garantissem a salvação de uma pessoa, mas que apenas a fé garantiria a salvação.

A insatisfação com as práticas e o debate teológico a respeito da salvação foram os fatores centrais que levaram o monge a posicionar-se. O movimento que Lutero iniciou não visava à separação da Igreja, mas sua moralização. Acontece que o que foi iniciado por Lutero propiciou que mudanças nos âmbitos políticos e econômicos fossem possíveis.

Por isso que, para entendermos a reforma protestante, não basta analisarmos as motivações de Lutero. Nós precisamos entender o contexto histórico e os interesses que levaram muitos a apoiarem o monge alemão. Algo que já citamos aqui é o papel da imprensa na difusão das ideias luteranas. Por meio desse instrumento, seus escritos espalharam-se por toda a Europa e incentivaram reações contra a Igreja.

Politicamente a Igreja ainda representava um grande força, uma vez que a consolidação do poder dos monarcas dependia da aprovação papal. Nesse sentido, ter o apoio do papa garantia uma influência muito grande, tanto internamente quanto externamente. A grande questão é que o século XVI foi um momento em que as demandas e os interesses políticos de cada reino começaram a tornar-se mais complexos.

Essa situação tem relação com o processo de formação dos Estados nacionais e de centralização do poder. As agendas políticas dos Estados formados eram muitos amplas, e, na maioria das vezes, os interesses dos reis desses locais não se encontravam com os interesses do papa. Nesse sentido, muitos nobres apoiaram a reforma de Lutero porque identificaram nela potencial para o enfraquecimento da Igreja, o que poderia garantir-lhes maior autonomia.

Essa maior autonomia política também significava maior autonomia econômica para esses reinos, uma vez que garantia o fim de impostos pagos para a Igreja. No contexto alemão, a reforma também foi abraçada porque se encarava com indignação a grande quantidade de recursos e posses que a Igreja possuía, principalmente porque algumas regiões do Sacro Império eram bastante pobres.

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Lutero e as 95 teses

Podemos perceber que o contexto da reforma protestante era complexo e que esse movimento não se resumiu apenas a um evento no campo eclesiástico. Ele influenciou e foi influenciado por diferentes interesses econômicos e políticos. De toda forma, o impulso central foi a indignação de Lutero, e isso o fez elaborar as conhecidas 95 teses.

Conhecidas também como “Disputação do doutor Martinho Lutero sobre o poder e eficácia das indulgências”, as 95 Teses foram uma carta escrita pelo monge alemão na qual ele discorreu sobre as indulgências. Ela foi enviada, no dia 31 de outubro de 1517, para Alberto de Mainz, o arcebispo de Mainz.

Estátua de Lutero em Wittenberg, cidade onde ele supostamente pregou as teses na porta da igreja.

Popularizou-se na tradição da reforma protestante que Lutero, em uma demonstração de indignação, teria fixado as suas teses na porta da Igreja do Castelo de Wittenberg. Esse ato teria sido o estopim que deu início à reforma, no entanto, os historiadores não têm evidências de ele tenha ocorrido de fato.

O que importa é que as teses de Lutero ganharam notoriedade e logo começaram a ser reimpressas e enviadas para todos os cantos da Europa. Como dito, Lutero não desejava romper com a Igreja Católica, mas as coisas não estavam sob seu controle e a reação intransigente da Igreja levou a essa ruptura de todo modo.

As ideias de Lutero foram fortemente abraçadas por muitos no Sacro Império, e a base de teologia luterana é a ideia de que “o justo viverá pela fé”. Assim, não são boas obras que garantem a salvação de uma pessoa, mas sim a sua fé. Quanto às indulgências, ele as questionava nas suas teses dizendo:

“Já que, com as indulgências, o papa procura mais a salvação das almas do o dinheiro, por que suspende as cartas e indulgências outrora já concedidas, se são igualmente eficazes?”|1|.

A construção teológica desenvolvida por Martinho Lutero pode ser resumida nos princípios conhecidos como cinco solas, crenças basilares da teologia protestante:

  • Sola fide (somente a fé)

  • Sola scriptura (somente a escritura)

  • Solus Christus (somente Cristo)

  • Sola gratia (somente a graça)

  • Soli Deo gloria (glória somente a Deus)

Ao longo de sua vida, Lutero ainda traduziu a Bíblia para o alemão, e suas ações deram origem ao protestantismo. Após Lutero, outros ramos do protestantismo desenvolveram-se. Na França, por exemplo, João Calvino propôs uma ruptura direta com a Igreja Católica, além de acreditar em um princípio conhecido como dupla predestinação.

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Reação da Igreja

A Igreja Católica não aprovou as críticas de Lutero. O papa Leão X, por exemplo, emitiu uma bula exigindo que o monge se retratasse, mas este queimou a bula papal em uma demonstração de que não se curvaria à pressão de Roma. No ano seguinte, o papa ainda excomungou Lutero, o que significava que ele estava excluído da Igreja Católica.

Lutero ainda teve de posicionar-se contra o poder temporal, uma vez que o imperador do Sacro Império, Carlos V, convocou a Dieta de Worms, uma espécie de assembleia, para que as ideias de Lutero fossem debatidas. Lutero esteve presente nesse evento, defendeu seus escritos e ideias e foi considerado um herege. Isso o forçou a esconder-se por um ano no Castelo de Wartburg como forma de proteger sua vida.

Na década de 1540, o papa Paulo III convocou o Concílio de Trento, evento que organizou a contrarreforma, o movimento de reação da Igreja contra o crescimento do protestantismo. Essa reação criou critérios para uma formação mais rigorosa dos membros clero e determinou que determinados livros tivessem sua circulação proibida.

A reação da Igreja Católica conseguiu, em partes, barrar o avanço do protestantismo, mas em locais como Alemanha, Dinamarca, Suécia, Países Baixos, Suíça, Inglaterra e Suíça, essa vertente religiosa conseguiu conquistar muito espaço.

Nota

|1| 95 teses de Lutero. Para acessar, clique aqui.

Por Daniel Neves
Professor de História