A biodisponibilidade é definida como: a fração (percentagem) de uma dose administrada do medicamento inalterado que atinge a corrente sanguínea (circulação sistémica). Sempre que se utiliza um medicamento, pretende-se que a substância ativa (também denominada por “princípio ativo” (PA)) consiga entrar no organismo. No entanto, para que tenha um efeito terapêutico, não basta que a substância ativa entre no organismo. A substância ativa tem que estar disponível na dose correta no local específico do organismo onde deve atuar. Este local específico denomina-se “local alvo”. Adicionalmente, a substância ativa tem que alcançar o local alvo num determinado período de tempo e estar disponível durante um determinado período de tempo. Ao injetar um medicamento diretamente no fluxo sanguíneo, i.e., uma injeção intravenosa (IV), a biodisponibilidade é definida como 100 % (ver figura abaixo). Após injeção, uma substância ativa alcança o local alvo após um complexo percurso no fluxo sanguíneo. Para avaliar a biodisponibilidade, recolhem-se amostras de sangue e determina-se a concentração da substância ativa no sangue (circulação sistémica). Como tal, a biodisponibilidade será de 100 % logo após a injeção, uma vez que a substância ativa é administrada diretamente no sangue. É exatamente o que se observa no eixo y da figura acima (biodisponibilidade intravenosa). Assim, se forem injetadas 75 miligramas (mg) de substância ativa na corrente sanguínea, 100 % corresponde a 75 mg de substância ativa. Quando a substância ativa circula através da corrente sanguínea, uma fração da substância ativa será metabolizada ou excretada e, consequentemente, a concentração da substância ativa no organismo diminuirá ao longo do tempo (ver figura acima). O perfil de biodisponibilidade é avaliado e comparado com outros medicamentos avaliando a área sob a curva (AUC), que representa a exposição total a uma substância ativa que o organismo recebe. O momento que corresponde à concentração máxima da substância ativa no sangue denomina-se por Tmáx, e a concentração máxima da substância ativa encontrada na corrente sanguínea denomina-se Cmáx. Se a substância ativa que aparece na figura acima for administrada por outra via, como por exemplo um comprimido tomado por via oral (ingestão), a biodisponibilidade é inferior a 100 % (ver figura abaixo, Biodisponibilidade oral). Biodisponibilidade oralPercentagem de substância ativa após a ingestão de um comprimido, estudada ao longo de um período de 15 horas. A AUC aparece sombreada. Tmáx é o momento no qual a concentração máxima do medicamento é encontrada na corrente sanguínea, enquanto que a Cmáx é a concentração máxima do medicamento encontrada na corrente sanguínea. A menor biodisponibilidade da via oral comparativamente à administração intravenosa é explicada na figura seguinte (Biodisponibilidade oral vs. biodisponibilidade intravenosa): Após um comprimido ou uma cápsula ser ingerido, chega ao estômago no período de um minuto ou dois.1 No estômago, o comprimido ou a cápsula dissolve-se e parte da substância ativa é absorvida para a corrente sanguínea. Os componentes são transportados para os intestino delgado onde o processo de absorção é concluído. A absorção do sistema gastrointestinal pode variar enormemente. Uma menor biodisponibilidade pode ser resultado de uma absorção insuficiente ou inexistente pelo estômago e intestinos, pelo que este é um passo importante que pode influenciar a disponibilidade. Quando a substância ativa é absorvida, chega primeiro à veia porta hepática e é transportada para o fígado. Esta é a primeira vez que a substância ativa é metabolizada no fígado, o que se denomina por "metabolismo de primeira passagem". Algumas substâncias ativas são metabolizadas em maior medida que outras durante este metabolismo de primeira passagem. A parte não metabolizada da substância ativa, normalmente inferior a 100 %, alcançará a circulação sistémica através da veia hepática. A quantidade que chega realmente à circulação sistémica denomina-se "biodisponibilidade absoluta". A biodisponibilidade absoluta compara a biodisponibilidade do PA na circulação sistémica após a administração não intravenosa com a biodisponibilidade do mesmo medicamento após a administração intravenosa. É a percentagem de PA absorvido após administração não intravenosa comparativamente ao mesmo medicamento correspondente administrado por via intravenosa. Em resumo, na biodisponibilidade absoluta o padrão é sempre IV. A biodisponibilidade relativa mede a biodisponibilidade de uma formulação (A) de um determinado medicamento comparativamente a outra formulação (B) do mesmo medicamento, normalmente um padrão estabelecido que não seja IV, ou por administração através de outra via. A biodisponibilidade é afetada por uma série de outros fatores que são específicos de cada indivíduo. Ver alguns exemplos de biodisponibilidade na ficha de dados em anexo. BioequivalênciaA bioequivalência é a relação entre duas preparações do mesmo fármaco na mesma forma de apresentação que têm uma biodisponibilidade similar. A biodisponibilidade relativa não se utiliza unicamente para comparar diferentes formulações, mas também quando se pretende comparar dois comprimidos (ou quaisquer outros medicamentos com a mesma formulação) com a mesma substância ativa de diferentes empresas farmacêuticas. O comprimido da empresa A é um medicamento genérico que se compara com o comprimido de referência da empresa B (medicamento de marca). Para verificar se o comprimido A é bioequivalente ao comprimido B, comparam-se as taxas de biodisponibilidade de ambos.2 Outros recursos
Referências
AnexosA2-1.16-V1.2
Fármacos administrados por via oral devem passar pela parede intestinal e, em seguida, pela circulação portal até o fígado; ambos são locais comuns de metabolismo de primeira passagem (metabolismo que ocorre antes de um fármaco alcançar a circulação sistêmica). Assim, muitos fármacos podem ser biotransformados antes de alcançar concentrações plasmáticas adequadas. A biodisponibilidade baixa é mais comum com as formas de dosagem oral de fármacos com absorção lenta e baixa hidrossolubilidade.
O tempo insuficiente de absorção no trato gastrintestinal é causa comum de biodisponibilidade baixa. Se o fármaco não se dissolver rapidamente ou não conseguir penetrar na membrana epitelial (p. ex., se for intensamente ionizada ou polar), o tempo no local de absorção pode ser insuficiente. Nesses casos, a biodisponibilidade tende a ser amplamente variável, bem como baixa.
Idade, sexo, atividade física, fenótipo genético, estresse, doenças (p. ex., acloridria e síndromes de má absorção) ou cirurgia pregressa do trato gastrintestinal (p. ex., cirurgia bariátrica) também podem afetar a biodisponibilidade de um fármaco.
Reações químicas que reduzem a absorção podem diminuir a biodisponibilidade. Elas incluem a formação de um complexo (p. ex., entre tetraciclina e íons metálicos polivalentes), hidrólise por ácido gástrico ou enzimas digestivas (p. ex., penicilina e hidrólise do palmitato de cloranfenicol), conjugação na parede intestinal (sulfoconjugação de isoproterenol), adsorção de outros fármacos (p. ex., de digoxina para colestiramina) e metabolismo por flora do lúmen. um fármaco é diretamente proporcional à velocidade de infusão. · Pergunta 9 0,5 em 0,5 pontos Sobre biodisponibilidade, analise as afirmativas a seguir. I. A biodisponibilidade é menor do que 100% para fármacos que não são administrados por via intravenosa. II. A área sob a curva (ASC) é o parâmetro farmacocinético usado para avaliar a biodisponibilidade absoluta. III. Medicamentos de uso oral cujos fármacos não sejam absorvidos no trato gastrintestinal não necessitam de estudos de biodisponibilidade relativa. IV. A biodisponibilidade traduz a velocidade e a extensão de absorção de um fármaco a partir de uma forma de administração. Assinale: Resposta Selecionada: e. Se todas as afirmativas estiverem corretas. Respostas: a. Se apenas a afirmativa II estiver correta. b. Se apenas as afirmativas II, III e IV estiverem corretas. c. Se apenas as afirmativas I e III estiverem corretas. d. Se apenas a afirmativa IV estiver correta. e. Se todas as afirmativas estiverem corretas. Feedback da resposta: Resposta: E Comentário: biodisponibilidade, segundo Lieberman (e col., 1990), é definida como a quantidade e a velocidade na qual o princípio ativo é absorvido, tornando-se disponível para a sua atuação no sítio de ação alvo. · Pergunta 10 0,5 em 0,5 pontos Sr. A.S.E., 42 anos, casado, bancário, residente na Gávea, procurou a emergência do Hospital das Clínicas, queixando-se de intensa dor no peito, acompanhada de intensa vermelhidão da conjuntiva do globo ocular e visão borrada. O paciente relatou também que sempre foi nervoso e que qualquer problema o deixava muito tenso, com cefaleia e que, frequentemente, custava muito a pegar no sono. De acordo com as vias de administração dos fármacos e absorção deles, utilizou para controlar de forma rápida esse caso usando um medicamento: Resposta Selecionada: d. Sublingual. Respostas: a. Subcutâneo. b. Retal. c. Oral. d. Sublingual. e. Intramuscular. Feedback da resposta: Resposta: D Comentário: via sublingual ou SL é uma via de administração que consiste na absorção de fármacos por debaixo da língua. Essa via de administração evita o efeito de primeira passagem, pois a drenagem venosa é para a veia cava superior. |