Qual e o tipo de epitélio que reveste a cavidade oral, a língua a faringe e o esôfago Por que

Confira um artigo completo que falamos sobre a Histologia do Trato Digestivo para esclarecer todas as suas dúvidas. Ao final, confira alguns materiais educativos para complementar os seus estudos.

Boa Leitura!

A Histologia do Trato Digestivo

O trato digestivo é formado pela cavidade oral, esôfago, estômago, intestinos delgado e grosso e canal anal, auxiliado pelas glândulas anexas, que são as glândulas salivares, fígado e pâncreas.

Todas essas estruturas, em conjunto, permitem a quebra dos alimentos em unidades menores e absorção dos nutrientes, através dos movimentos peristálticos e secreção de hormônios e enzimas que digerem esses alimentos.

Além disso, como o trato digestivo é um importante alvo de microrganismos invasores, que podem ser carregados pelos alimentos, seus tecidos precisam de um sistema de defesa especializado, o qual é chamado de GALT (tecido linfoide associado ao trato gastrointestinal).

Imagem: Anatomia do trato digestivo. Fonte: //bit.ly/3a7AMYt

A digestão começa na cavidade oral, a partir da mastigação do alimento, que o umedece e quebra em partículas menores. Na cavidade oral também se inicia a digestão de carboidratos, devido a amilase presente na saliva, formando o bolo alimentar. Daí, o alimento segue para o estômago, passando pela faringe e esôfago, e de lá o alimento segue para o intestino delgado, onde ocorre principalmente a absorção de nutrientes.

Do intestino delgado, o alimento passa para o intestino grosso, onde ocorre a formação de fezes e absorção de água. As fezes seguem para o canal retal e são expelidas pelo ânus. Todas essas diferentes estruturas do trato gastrointestinal (TGI) formam um tipo de tubo, da boca até o ânus, sendo separadas por esfíncteres, os quais controlam a velocidade com o que o alimento vai percorrer o TGI, a fim de que todas as etapas da digestão aconteçam de forma adequada.

Os movimentos peristálticos acontecem com as contrações das camadas muscular longitudinal e muscular circular, que fazem o alimento seguir ao longo do TGI e ser jogado contra as paredes do trato, aumentando o contato do alimento com as paredes do tubo digestivo para que se misture com o suco gástrico e intestinal e seja devidamente quebrado até suas menores frações (aminoácidos, monossacarídeos, ácidos graxos livres).

Esses movimentos acontecem controlados por um sistema nervoso próprio, que é o sistema nervoso entérico, composto por um plexo externo, chamado de plexo mioentérico (de Auerbach), que fica entre as camadas musculares longitudinal e circular, e um plexo interno, chamado de plexo submucoso (de Meissner), localizado na submucosa.

O plexo de Auerbach controla todos os movimentos gastrointestinais, enquanto o plexo de Meissner controla a secreção gastrointestinal e o fluxo sanguíneo local. Vale ressaltar ainda que o trato digestivo é ricamente vascularizado, visto que as substâncias são absorvidas para a corrente sanguínea.

Aspectos Gerais do Trato Gastrointestinal

Todas as estruturas do TGI apresentam algumas características em comum: um lúmen, que varia de diâmetro, circundado por uma parede formada por mucosa, submucosa, muscular e serosa, nesta ordem, de dentro para fora.

A camada mucosa é formada por: revestimento epitelial, lâmina própria (tecido conjuntivo frouxo rico em vasos linfáticos e sanguíneos, células musculares lisas, e algumas glândulas e tecido linfoide), e muscular da mucosa, que separa a mucosa da submucosa, sendo formada por duas subcamadas delgadas de células musculares lisas, uma circular interna e outra longitudinal externa.

A lâmina própria é rica em macrófagos e células linfoides, algumas das quais produzem anticorpos, principalmente IgA, secretado no lúmen ligado a uma proteína produzida pelas células epiteliais do revestimento intestinal – o complexo SIgA (proteínas + IgA), que também existe nos tratos respiratórios e geniturinário e é resistente às enzimas digestivas.

A camada submucosa é composta por tecido conjuntivo rico em vasos sanguíneos e linfáticos, e é onde se situa o plexo de Meissner, que é o plexo nervoso que controla principalmente as secreções gastrointestinais e o fluxo sanguíneo local. Também pode conter glândulas e tecidos linfoides (nódulos linfáticos).

A camada muscular possui células musculares lisas em espiral, divididas em duas subcamadas, diferenciadas por seu direcionamento – a subcamada mais interna normalmente é circular e a subcamada externa é longitudinal, e entre elas duas está o plexo de Auerbach, que controla os movimentos peristálticos, além de tecido conjuntivo rico em vasos sanguíneos e linfáticos. A camada circular realiza os movimentos que promovem a mistura do bolo alimentar com os sucos digestivos, enquanto a camada longitudinal realiza os movimentos que impulsionam o bolo alimentar pelo tubo digestório.

Imagem: Camadas musculares do TGI. Fonte: JUNQUEIRA, LC, CARNEIRO, J. Histologia Básica. 12ªed. Editora Guanabara Koogan, 2013.

A camada serosa é formada por uma camada delgada de tecido conjuntivo frouxo, revestido por mesotélio (epitélio pavimentoso simples). Na cavidade abdominal, a serosa é denominada de peritônio visceral e parietal.

O peritônio visceral é contínuo com o mesentério (membrana delgada revestida por mesotélio nos dois lados) e tem função de suporte aos intestinos, ficando em contato direto com as vísceras abdominais.

O peritônio parietal reveste a parede da cavidade abdominal, ou seja, fica entre o peritônio visceral e a parede muscular.

Em locais em que o órgão digestivo é unido a outras estruturas, a serosa é substituída por uma camada adventícia espessa, composta por tecido conjuntivo e tecido adiposo rico em vasos e nervos, mas sem mesotélio.

Assim, o revestimento epitelial possui 4 funções principais:

  1. Promover uma barreira seletivamente permeável entre o conteúdo do lúmen e os tecidos do organismo – GALT;
  2. Facilitar o transporte e a digestão dos alimentos – Movimentos peristálticos;
  3. Favorecer a absorção dos produtos da digestão – Vasos sanguíneos;
  4. Produzir hormônios e secreções que regulem e auxiliem na atividade do sistema digestório – Plexo de Meissner;

Histologia do Trato Digestivo: Cavidade Oral

A cavidade oral é revestida por epitélio pavimentoso estratificado, que em algumas regiões é queratinizado e em outras não. As regiões de maior atrito com os dentes, como as gengivas e palato duro, são queratinizadas, enquanto as áreas de menor atrito não são queratinizadas, como o assoalho da boca, palato mole e bochechas.

A lâmina própria da cavidade oral contém várias papilas e fica em contato direto com o periósteo. Essas papilas são semelhantes às presente na derme e são contínuas com a submucosa, que contém glândulas salivares menores difusas. A cavidade oral também possui as glândulas salivares, que serão descritas na seção de glândulas anexas.

Nos lábios, há uma transição do epitélio oral não queratinizado para o epitélio queratinizado da pele, que reveste a porção externa dos lábios. O tecido conjuntivo abaixo desse epitélio é do tipo denso não-modelado e possui pequenas glândulas salivares mucosas. O palato mole possui músculo estriado esquelético, além de muitas glândulas mucosas e nódulos linfáticos.

Imagem: Cavidade oral. Fonte: //bit.ly/3fOWhAN

A mucosa oral pode ser dividida em mucosa de revestimento (não queratinizada), mucosa mastigatória (queratinizada) e mucosa especializada, que contém os botões gustativos (superfície dorsal da língua, áreas do palato mole e mucosa da faringe).

Os lábios formam o limite anterior e os arcos palatoglossos formam o limite posterior da cavidade oral, cujos principais componentes, além dos lábios, são: dentes e suas estruturas associadas, palato e língua.

Dentes

Os adultos possuem normalmente 32 dentes permanentes, dispostos em dois arcos, superior e inferior, bilateralmente simétricos nos ossos maxilar e mandibular, cada arco contendo: quatro incisivos, dois caninos, quatro pré-molares e seis molares permanentes, sendo que os dois últimos molares em cada arcada (sisos) normalmente são extraídos e em algumas pessoas não nascem com eles. 20 desses dentes permanentes são precedidos por dentes decíduos (de leite), mas os molares permanentes não possuem decíduos.

Cada dente tem uma porção que projeta acima da gengiva, chamada de coroa, e uma ou mais raízes abaixo da gengiva, que unem os dentes aos alvéolos, alojamentos ósseos para os dentes. Abaixo da coroa situa-se a dentina e a polpa dentária.

A coroa é coberta pelo esmalte, um tecido mineralizado, extremamente duro, e as raízes são revestidas pelo cemento, outro tecido mineralizado. Abaixo do esmalte e do cemento está a dentina, que também é um tecido mineralizado, o qual compõe a maior parte do dente.

A dentina circunda uma região chamada de cavidade pulpar, preenchida por tecido conjuntivo frouxo muito vascularizado e inervado chamado de polpa dental. Essa cavidade possui uma porção coronária (câmara pulpar) e uma porção na raiz (canal radicular), que vai até o ápice do dente, onde o forame apical permite a entrada e saída de vasos sanguíneos e linfáticos e nervos da polpa. O dente é fixado ao alvéolo pelo ligamento periodontal, que é um tecido conjuntivo com feixes grossos de fibras colágenas que se insere no cemento e no osso alveolar.

A dentina é dura, pois é formada principalmente por fibras colágenas tipo I, glicosaminoglicanos, fosfoproteínas, fosfolipídios e sais de cálcio na forma de cristais de hidroxiapatita. A matriz da dentina é secretada pelos odontoblastos, que ficam na periferia da polpa.

Cada odontoblasto tem uma extensão apical ramificada que penetra perpendicularmente a dentina, percorrendo sua extensão – prolongamentos odontoblásticos (fibras de Tomes). Esses prolongamentos vão se alongando e a medida que a dentina se torna mais espessa, passa a ocupar os túbulos dentinários, que se ramificam próximo a junção da dentina com o esmalte.

A dentina é sensível a vários estímulos, como calor, frio, trauma e pH ácido, que causam dor. Embora a polpa seja bastante inervada, a dentina tem poucas fibras nervosas amielínicas.

O esmalte é o componente mais duro do corpo humano, também formado por cristais de hidroxiapatita. Apenas durante o desenvolvimento do dente, o esmalte é produzido por células ectodérmicas chamadas de ameloblastos.

Casa ameloblasto possui uma extensão apical chamada de processo de Tomes, que possui grânulos de secreção contendo as proteínas da matriz do esmalte. Depois da síntese do esmalte, os ameloblastos formam um epitélio protetor que recobre a coroa até a erupção do dente, prevenindo defeitos no esmalte.

A polpa dental é composta por tecido conjuntivo frouxo, formado por odontoblastos, fibroblastos e matriz com fibrilas finas de colágeno e glicosaminoglicanos. É bastante vascularizado e inervado por vasos e fibras mielinizadas, que penetram pelo forame apical e ramificam-se. As fibras pulpares são sensíveis à dor, única modalidade sensorial reconhecida pelos dentes (não reconhece temperatura, de modo que estímulos de calor e frio são sentidos como dor).

O dente é mantido nos ossos maxilar e mandibular pelo periodonto, que consiste no cemento, ligamento periodontal, osso alveolar e gengiva. O cemento recobre a dentina radicular e é similar ao tecido ósseo, não possuindo vasos sanguíneos nem sistemas haversianos (por onde passam vasos e nervosos nos ossos). A falta de vasos é o que permite que os aparelhos ortodônticos movimentem os dentes sem que haja reabsorção radicular significativa. O cemento pode reabsorver o tecido antigo ou produzir tecido novo a partir dos estímulos que recebe. Sua produção contínua no ápice compensa o desgaste fisiológico dos dentes e mantém em contato das raízes dos dentes e seus alvéolos.

O ligamento periodontal é formado por um tipo especial de tecido conjuntivo, com fibras arranjadas em feixes grossos (feixes de Sharpey), que possibilita o movimento limitado dos dentes e evita a transmissão direta da pressão para o osso, evitando uma reabsorção óssea localizada.

O osso alveolar é um osso imaturo, que fica em contato com o ligamento periodontal, formado pelo osso mais próximo das raízes dos dentes. O osso alveolar é atravessado por vasos sanguíneos para penetrar o ligamento periodontal, formando os vasos perfurantes.

Por fim, a gengiva é uma membrana mucosa aderida ao periósteo dos ossos maxilar e mandibular, composta por epitélio pavimentoso estratificado e lâmina própria rica em papilas conjuntivas. Entre o esmalte e o epitélio localizado acima do epitélio juncional (parte especializada do epitélio da gengiva) está o suco gengival, circundando a coroa.

Palato

O palato compreende o palato duro, o pato mole e a úvula. Essas estruturas separam a cavidade oral da cavidade nasal. A mucosa mastigatória na face oral do palato duro é formada por epitélio pavimentoso queratinizado, recobrindo um tecido conjuntivo denso não modelado.

Na porção latero-anterior, o palato duro apresenta agregados de tecido adiposo unilocular, e na porção latero-posterior há ácinos mucosos de glândulas salivares menores, também chamadas de glândulas palatinas. A face nasal do palato duro é coberta por epitélio respiratório, podendo ocorrer áreas de epitélio estratificado pavimentoso não-queratinizado.

O palato mole é coberto por mucosa de revestimento, composta por epitélio estratificado pavimentoso não-queratinizado e tecido conjuntivo denso não modelado, que também abriga pequenas glândulas salivares mucosas. O epitélio da face nasal é do tipo epitélio respiratório.

A úvula tem estrutura similar a do palato mole, composta por epitélio estratificado pavimentoso não-queratinizado apenas, e também possui glândulas salivares mucosas e músculo esquelético, responsável por seus movimentos (o palato duro é imóvel).

Imagem: Divisão do palato. Fonte: //bit.ly/2RIM6UD

Língua

A língua é uma massa de músculo estriado esquelético revestida por uma mucosa que varia de acordo com a região. Suas fibras musculares se entrecruzam em três planos, sendo agrupadas em feixes separados por tecido conjuntivo. A camada mucosa é unida a musculatura graças ao tecido conjuntivo da lâmina própria que penetra os espaços entre os feixes musculares.

A superfície inferior da língua é lisa, enquanto a superfície dorsal é irregular, recoberta anteriormente pelas papilas. Na porção posterior, a língua apresenta saliências compostas principalmente por nódulos linfoides e tonsilas linguais, onde os nódulos se agregam ao redor das criptas, que são invaginações da mucosa.

Imagem: Língua. Fonte: JUNQUEIRA, LC, CARNEIRO, J. Histologia Básica. 12ªed. Editora Guanabara Koogan, 2013.

Existem 4 tipos de papilas linguais:

Filiformes: possuem formato cônico alongado, são numerosas e ficam na superfície dorsal da língua. Sua função é de fricção e seu epitélio de revestimento é queratinizado e não possui botões gustativos.

Fungiformes: são semelhantes a cogumelos, com base estreita porção superior dilatada e lisa. Essas papilas são irregularmente distribuídas entre as papilas filiformes.

Foliadas: são pouco desenvolvidas em humanos, consistindo em duas ou mais rugas paralelas, separadas por sulcos na superfície dorsolateral da língua, rica em botões gustativos.

Circunvaladas: possuem superfície achatada que se estende acima de outras papilas. São distribuídas na porção do V lingual (separa o terço posterior do dorso da língua dos dois terços anteriores). Essas papilas podem ser circundadas por glândulas serosas (glândulas de von Ebner), em um arranjo semelhante a um fosse, que possibilita um fluxo contínuo de líquido sobre uma grande quantidade de botões gustativos. Esse fluxo é importante na remoção de partículas de alimentos das adjacências dos botões, permitindo que eles recebam os estímulos.

As glândulas serosas também secretam lipases, que previnem formação de camada hidrofóbica sobre os botões gustativos, o que poderia prejudicar suas funções. Essa lipase é ativa no estômago, participando da digestão de triglicerídeos.

O paladar humano pode diferenciar sabores salgado, azedo, doce, amargo e o saboroso, que podem ser percebidos em toda as regiões que existem os botões gustativos. Esses botões repousam sob a lâmina basal e em sua porção apical, as células gustativas possuem microvilosidades que se projetam para o poro gustativo.

Há quatro tipos de células que constituem o botão gustativo: células basais (tipo IV), células escuras (tipo I), células claras (tipo II) e células intermediárias (tipo III). As células basais têm função de suporte, sendo responsáveis pela reposição do tecido, regenerando as células dos botões gustativos no período de 10 dias. Não se sabe a relação entre as células dos botões gustativos, acreditando-se que as células basais originam as células escuras, as quais amadurecem e se tornam células claras, que por sua vez se transformam em células intermediários e morrem, sendo regeneradas.

Posts relacionados à Histologia do Trato Digestivo

Postingan terbaru

LIHAT SEMUA