A historia da musica popular brasileira 1930 a 1940

A efervescente Era do Rádio brasileira revelou inesquecíveis talentos da música que nos deixaram um precioso legado artístico e cultural. Selecionamos alguns dos principais hits brasileiros da década de 1940. Confira:

Carmen Miranda – Mamãe Eu Quero (1940)

A marchinha de carnaval “Mamãe eu Quero” foi composta em 1937 pelos músicos Vicente Paiva e Jararaca, porém conquistou sucesso mundial em 1940, interpretada por Carmen Miranda em seu primeiro filme em Hollywood, “Serenata Tropical”. “Mamãe eu Quero” tornou-se uma das mais conhecidas canções brasileiras de todos os tempos, e consolidou para sempre a imagem da Pequena Notável. A marchinha, conhecida pelo público norte-americano como “I Want My Mamma”, foi reinterpretada por artistas como Lucille Ball, Bing Crosby, The Andrew Sisters, entre outros.

Dorival Caymmi – O Mar (1940)

Um dos mais célebres compositores brasileiros, o poeta Dorival Caymmi cantou as dores e os amores de seus conterrâneos baianos – sobretudo dos pescadores. O lirismo permeia canções como “O Mar”.  

Gilberto Alves – Louca pela Boemia (1941)

O carioca Gilberto Alves era despretensioso. Não ambicionava nenhum sucesso (gostava mais era de cantar samba em roda de amigos no bar), mas acabou por se tornar uma das mais expressivas vozes da Era do Rádio. “Louca pela Boemia”, de Alcebíades Barcelos e Armando Marçal, está presente em suas principais antologias de sucessos.

Linda Batista – Batuque no Morro (1942)

Linda Batista colecionou sucessos de carreira e manteve-se sob o título de Rainha do Rádio por mais de uma década. Um destes sucessos é o samba batuque “Batuque no Morro”, hit do carnaval carioca de 1942, composto por Russo do Pandeiro e Sá Roris. A gravação ocorreu em 13 de agosto de 1941, e foi lançada em disco no mês de outubro do mesmo ano.

Nelson Gonçalves – Noite de Lua (1943)

Reconhecido por sua voz possante, o compositor Nelson Gonçalves é o terceiro na lista de artistas brasileiros que mais venderam discos na história do país – atrás somente de Roberto Carlos e Tonico & Tinoco. “Noite de Lua” embalou os corações de casais na década de 40.

Francisco Alves – A Última Valsa (1944)

Francisco Alves, o Rei da Voz, é autor de memoráveis obras-primas da música brasileira. “A Última Valsa”, de José Maria de Abreu e F. Corrêa da Silva, é uma das mais belas expressões do romantismo na música.

Nelson Gonçalves – Maria Betânia (1945)

Valsa do pernambucano Capiba, popular compositor de frevos. Inspirado por esta canção, o então garotinho Caetano Veloso sugeriu a sua mãe que sua irmã mais nova, que acabara de nascer, fosse batizada com o nome de Maria Bethânia. 

Isaurinha Garcia – Mensagem (1946)

A “Edith Piaf brasileira” interpretou mais de trezentas canções ao longo de sua carreira. Por seu talento singular, conquistou o título de “personalíssima”. “Mensagem”, de Aldo Cabral e Cícero Nunes, lançada em 1946, consagrou-a para sempre na história da música popular brasileira.

Luiz Gonzaga – Asa Branca (1947)

“Asa Branca”, do rei do Baião, Luiz Gonzaga, é uma das mais ricas canções populares do Brasil: lançada em 1947, o choro retrata de maneira poética e sentimental a retirada dos sertanejos, em vista da seca que abala o interior nordestino. É uma das canções brasileiras de maior sucesso no mundo, e chegou a ser interpretada em língua inglesa (White Wings) por Demis Roussos.

Aracy de Almeida – Não me Diga Adeus (1948)

Aracy de Almeida é “o samba em pessoa”: “Não me Diga Adeus”, composta por Paquito, Luís Soberano e João Corrêa da Silva, foi a sensação do carnaval de 1948.

Emilinha Borba – Chiquita Bacana (1949)

A marchinha “Chiquita Bacana”, de autoria dos compositores João de Barro e Alberto Ribeiro, foi imortalizada na voz de Emilinha Borba. “Chiquita Bacana” trata do existencialismo (doutrina filosófica que era moda entre a intelectualidade da época, influenciada pelas ideias de Sartre e Albert Camus) de maneira boêmia, não-científica. A marchinha foi reinterpretada em diferentes países como Itália, Argentina, Inglaterra, Holanda e Estados Unidos, e tornou-se um clássico mundial cantada em francês (“Chiquita Madame”) por Josephine Baker.

Na música brasileira, a década de 1930 representa um momento em que se consolida o aspecto comercial da música popular. Importante frisar que fizemos uma opção convencional de situar a década entre os anos 1930 e 1939. 

Os anos 1920 já haviam visto transformações significativas em todo o processo musical, principalmente na forma de divulgação das músicas através do rádio, que ganhou muito do espaço que era ocupado pelo teatro de revista na disseminação de sucessos populares.

Além disso, os anos 1930 viram um acelerado desenvolvimento tecnológico nos instrumentos de captação do som e sua reprodução. As rádios, por sua vez, começaram a veicular publicidade em suas programações e, para fazer valer os investimentos, ajudaram a construir a imagem de grandes artistas, que formavam os elencos fixos de suas atrações.

Ou seja, todo o potencial criativo de cantores e compositores passou a ser canalizado para este modo de produção musical. Que, dessa forma, se ampliava consideravelmente, possibilitando o surgimento de novos nomes, além de aumentar  a popularidade de figuras já conhecidas.

Tudo isso colaborou, por exemplo, para que as marchinhas de carnaval, que já existiam, ganhassem maior visibilidade na década. Afinal, em 1930 a Casa Edison criou um concurso de músicas de Carnaval. Dois anos depois foi a  vez da prefeitura do Rio de Janeiro promover o seu próprio festival. E essa iniciativa seria copiada, nos anos seguintes, por outras instituições comerciais ou da imprensa. Sempre com o atrativo de remunerar os artistas, através de premiações em dinheiro.

As Músicas nos Anos 30

Essa primeira geração fez surgir o que se chama de “Era de Ouro” ou “Época de Ouro” na música popular brasileira. Há músicas geniais nos anos 1930. Criativas e muito  originais, os compositores criavam temas diversos e inusitados, muito antenados ao momento da sociedade.

Ainda assim, prevalecem alguns gêneros musicais como o samba e o samba-canção, sua variante, além das marchas, carnavalescas ou não. Algumas das palavras mais recorrentes nas letras eram: Samba, Amor, Coração, Morena, Lua, Triste, Saudade, Terra, Noite e Morro.

Os amores são leves, e mesmo o sofrimento era bastante ameno. Havia mesmo uma graça no sofrer. Tanto nas letras quanto nas opções melódicas, ainda sem carregar muito no sentimentalismo. E como os compositores eram homens, em quase absoluta maioria, as relações amorosas são sempre pautadas pelo ponto de vista masculino. Dessa forma, são tempos de homens que demonstram muita fragilidade na relação. Estão quase sempre se queixando de como as mulheres são cruéis e lhes fazem sofrer.

Música e Política

O Estado Novo (1937-45) de Getúlio Vargas começa a influenciar a música popular. São tempos ditatoriais os de consagração do Samba como símbolo de identidade nacional. Além do início das canções de exaltação patriótica, iniciada com Aquarela do Brasil, de Ary Barroso.

A capital da República, Rio de Janeiro, é o grande centro musical do país, pois concentrava as grandes emissoras nacionais de rádio.

E apesar da marcha “Cidade Maravilhosa” ter sido uma das mais tocadas, o nome da Bahia aparecia com força frequentemente, como uma terra encantada. E também é quando se cria a mística da mulher baiana. Certamente, o apreço dos compositores por tais temas, além das belezas naturais, devia muito ao fato de o surgimento do samba ter acontecido nas festas que ocorriam na casa de uma baiana, a Tia Ciata, alguns anos antes, no Rio de Janeiro.

Os Artistas dos anos 30

Dentre os principais nomes dos anos 1930, podemos destacar aqueles que já faziam sucesso desde a década anterior e que continuara renomados:

  • Aracy Cortes;
  • Francisco Alves;
  • Gastão Formenti;
  • Mario Reis;
  • Pixinguinha;
  • Vicente Celestino.

E aqueles que surgiram nos anos 30 e foram decisivos para alterar o status e os rumos da música brasileira:

  • Almirante;
  • Aracy de Almeida;
  • Ary Barroso;
  • Braguinha (João de Barro);
  • Carlos Galhardo;
  • Carmen Miranda;
  • Ismael Silva;
  • Lamartine Babo;
  • Noel Rosa;
  • Orlando Silva;
  • Patrício Teixeira;
  • Silvio Caldas;
  • Wilson Batista.

Todos eles transitavam pelos mesmo locais: rádios, teatros, gravadoras, bares, cafés e restaurantes. Praticamente todos se conheciam muito bem, e se misturavam em parcerias para compor ou cantar. Mesmo aqueles que vinham de classes baixas, ao entrar no mundo artístico, passavam a frequentar os mesmos ambientes.

E também é importante destacar o nome de Sinhô. Maior figura da música brasileira nos anos 1920, o compositor que fez sua carreira basicamente lançando suas músicas no Teatro de Revista, faleceu em 1930. Numa passagem simbólica de bastão.

Abaixo listamos as melhores músicas da década de 30 em nossa opinião.