O que alavancou a economia japonesa

O Japão é a terceira maior economia do mundo, ficando atrás da China, em segundo lugar, e dos Estados Unidos, em primeiro.

Nas décadas de 80 e 90, contudo, o Japão ocupava o posto de segunda nação mais rica do mundo, tendo os EUA em primeiro lugar.

Entre os principais fatores que justificam o desempenho econômico japonês em relação às demais nações asiáticas e mesmo ao restante dos países do mundo, estão as imposições norte-americanas após a Segunda Guerra Mundial.

Derrotado, o Japão assinou a rendição em 1945 e permaneceu sob o domínio norte-americano até 1952, quando recuperou a autonomia.

Pós-Guerra

No comando, os Estados Unidos aplicaram medidas para transformar a economia, a cultura e a política japonesas. Com a realização da reforma agrária, o país deixou para trás o passado feudal. O Exército foi desfeito e transformado em força de autodefesa, cuja interferência externa estava proibida pela Constituição.

A Constituição também transformou o Japão em um estado laico. Antes disso, a religião oficial eram o xintoísmo, em que o próprio imperador era considerado um deus. Em decorrência desse fato, o imperador Hiroíto, que governou entre 1929 e 1989, renunciou à sua divindade e atuou diretamente na reforma política, cultural e econômica do Japão.

Sendo colaborador dos EUA, o governo japonês recebeu empréstimos dos e modernizou a indústria, fornecendo equipamento bélicos para os norte-americanos, que atuavam no sufocamento da atividade comunista na Ásia.

Guerra da Coreia

Foi a indústria japonesa uma das principais responsáveis pelo fornecimento de armas para os EUA durante a Guerra da Coreia, que ocorreu entre 1950 e 1953, e a do Vietnã, entre 1960 e 1975.

O desempenho econômico japonês foi influenciado também pela mão-de-obra barata, o aumento de investimentos na pesquisa tecnológica e, ainda, na educação em massa. No período de 1947 a 1970, o Japão cresceu proporcionalmente, mais que qualquer nação do mundo.

A economia japonesa cresceu 9,7% entre 1947 e 1950, enquanto os Estados Unidos, evoluíram 2,4% no mesmo período, e o Reino Unido 1,5%. No período compreendido entre 1966 e 1970, o Japão cresceu 14,6%, mais que o dobro da França, com 6%, e muito acima dos Estados Unidos (3,1%%), Reino Unido (2,6%) e Alemanha (5,2%).

A indústria japonesa já era bastante diversificada em 1880, com a atuação de fábricas de produtos têxteis, sobretudo algodão e seda. A partir de 1901, começam a aparecer a siderurgia, a metalurgia, a química e a mecânica.

Tecnologia Japonesa

É a indústria tecnológica, contudo, o principal indutor do crescimento na era moderna. O Japão está na ponta da pesquisa da robótica, da nanotecnologia, eletrônica e informática. Embora com escassa matéria prima, sendo dependente de exportação, a transformação dos produtos pelo suporte tecnológico garantiu ao Japão destacado crescimento econômico.

Em resumo, o Japão importa produtos primários e exporta tecnologia. Essa tendência só foi freada nos anos 90, quando o país enfrentou uma das piores crises econômicas da história e decorrência da especulação financeira no setor de imóveis. Esse fenômeno é denominado bolha imobiliária.

Leia também: Japão, Cultura Japonesa.

Após a derrota na Segunda Guerra Mundial, o Japão foi obrigado a aceitar todos os termos impostos pelos Estados Unidos, além de o país ter sido ocupado por tropas americanas. Nesse contexto, era necessário reconstruir a nação, que havia sido arrasada durante a guerra.

Após as bombas atômicas lançadas em Hiroshima e Nagasaki, os Estados Unidos conseguiram forçar o império japonês a se render e aceitar os termos da Declaração de Potsdam, proposta pelos Aliados. A oficialização da rendição aconteceu no dia 2 de setembro de 1945, no encouraçado americano USS Missouri.

Com a rendição, o Japão concordou com a ocupação americana, que foi liderada pelo general Douglas MacArthur. A ocupação americana tinha como objetivo realizar essa transição do Japão para um país pacífico e aliado aos interesses americanos na Ásia. Além disso, a presença americana garantiria o afastamento da influência soviética.

A grande tarefa do Japão era reconstruir a infraestrutura e economia do país. Esse processo de reconstrução econômica do país foi realizado, em parte, com ajuda financeira americana. Essa ajuda era uma maneira de aliar os países em reconstrução com a política americana e, assim, impedir a proliferação do comunismo soviético.

A ocupação americana no Japão foi encerrada em 1952 e, apesar disso, os Estados Unidos mantiveram suas bases militares na ilha de Okinawa. O Japão foi autorizado pelos Estados Unidos a manter uma força de defesa interna composta por, no máximo, 350 mil soldados.

Confira nosso podcast: Consequências da Segunda Guerra Mundial para o Japão

Rendição Japonesa


Selo americano em comemoração aos cinquenta anos da rendição japonesa na guerra [1]

A rendição japonesa na guerra só aconteceu mediante uma garantia dada pelo governo americano: a manutenção do imperador Hirohito. O historiador Yoshikuni Igarashi traz relatos de que o imperador Hirohito estava disposto a continuar a luta tanto quanto fosse possível para garantir sua manutenção no trono imperial japonês.

Com a rendição, a cúpula japonesa desenvolveu uma teoria para retirar a responsabilidade do imperador e da sociedade na guerra e promoveu a ideia de que a rendição foi fruto da benevolência imperial. Os oficiais do governo japonês já cogitavam a rendição japonesa desde 1943, entretanto, a rendição era pensada de uma maneira que garantisse Hirohito no poder.

Essa narrativa foi transmitida por meio do discurso oficial do imperador Hirohito, que foi divulgado por rádio para todo o Japão. Assim, de acordo com a narrativa oficial do governo japonês, o Imperador não possuía responsabilidade pela guerra, pois havia sido forçado pelos militares. Além disso, o discurso oficial negligenciou qualquer tipo de violência cometida pelo Japão contra as nações vizinhas e afirmou que a rendição foi um ato de bondade do Imperador, que lideraria a reconstrução japonesa |1|.

Yoshikuni Igarashi afirma o seguinte sobre a intencionalidade da narrativa oficial:

Ao se definir Hirohito como apolítico e a-histórico, o governo conduziu a absolvição dele, e, por extensão, os líderes do governo que seguiram fielmente Hirohito, poderiam, igualmente, ser exonerados de sua responsabilidade política. Essa lógica também se aplica à população japonesa em geral, já que a vontade dos japoneses era uma extensão da vontade do Imperador|2|.

Nesse sentido, os desastres atômicos em Hiroshima e Nagasaki foram utilizados como ferramentas para reforçar a bondade de Hirohito para evitar a dizimação do Japão. Esse discurso foi muito forte até a década de 1980 e foi abraçado por grupos políticos conservadores do Japão, que procuraram eximir-se de qualquer responsabilidade no incentivo à participação japonesa na guerra. Hirohito manteve-se como Imperador até sua morte, em 1989.

Notas

|1| IGARASHI, Yoshikuni. Corpos da memória: narrativas do pós-guerra na cultura japonesa (1945-1970) São Paulo: Annablume, 2011, p.75.
|2| Idem, p. 76

Créditos da imagem:

[1] catwalker / Shutterstock

Por Daniel Neves

Graduado em História

O Milagre econômico japonês (高度経済成長, Kōdo keizai seichō?) foi o fenômeno econômico ocorrido no Japão de crescimento econômico recorde após a Segunda Guerra Mundial, impulsionado primeiramente pela assistência dos Estados Unidos e consolidado pelo intervencionismo do governo japonês, em particular por meio de seu Ministério do Comércio e Indústria.[1] Estes acordos deveram-se a fatores geopolíticos como impedir o avanço ideológico da União Soviética e China comunista sobre este país.[2] As características distintivas da economia japonesa durante a "reconstrução econômica" foram: a estreita colaboração de empresas, fabricantes, fornecedores, distribuidores e bancos em grupos chamados keiretsu, os sindicatos de poderosas empresas chamados shuntō; relações estreitas com burocratas do governo, e a garantia de emprego vitalício (shūshin koyo) em grandes empresas e fábricas altamente sindicalizadas.[3] Desde 1993, as empresas japonesas começaram a abandonar algumas dessas normas para aumentar sua rentabilidade e eficiência.

Distrito de Minato Mirai 21 em Yokohama.

O governo estadunidense desempenhou um papel crucial na reconstrução do Japão do pós-guerra, com a participação efetiva do governo japonês promovendo medidas eficientes de consolidação da recuperação do país. Os Estados Unidos forneceram assistência política e concederam créditos para a reconstrução do país não somente para democratizá-lo, mas também para impedir o ressurgimento do militarismo, do antiamericanismo e a ascensão do comunismo no Japão.[4]

As hostilidades militares na península coreana em 1950 impulsionaram de forma mais forte a economia porque o governo estadunidense interveio de forma mais efetiva sobre a política japonesa.[5] O comércio entre os dois países totalizava 27% do total das exportações do Japão durante as décadas de 1960 e 1990. Os Estados Unidos também insistiram para que o Japão fosse admitido no GATT como um "membro temporário", posição que se tornou definitiva após o fim da Guerra da Coréia.

 

Os Shinkansen da série 0 foram os primeiros comboios a ser construídos para circular na rede de trens de alta velocidade japonesa. Eles representaram toda a robustez econômica do Japão no pós II guerra

A recuperação financeira japonesa continuou mesmo depois do fim da ocupação americana no Japão e do "boom" econômico impulsionado pela Guerra da Coreia. A economia do Japão enfrentou uma breve recessão causada pela perda dos investimentos e dispêndios dos EUA para aquisição de equipamentos militares.

A participação do governo também se mostrou crucial quanto na implantação e consolidação de medidas como, adoção de uma política de rigoroso controle populacional; prioridade à educação e ao domínio da tecnologia; produção voltada à exportação e eficiência. A partir da década de 1950, o Japão atingiu um estágio de grande desenvolvimento e é hoje uma das maiores potências mundiais.[6]

No final da década de 1960, o Japão tinha "ressurgido das cinzas" da Segunda Guerra Mundial para conseguir uma rápida e completa recuperação da economia. O governo japonês consolidou o milagre econômico do pós-guerra, estimulando o crescimento do setor privado, em primeiro lugar pela regulamentação da atividade empresarial e políticas fortemente protecionistas na indústria nacional que efetivamente conseguiram frear os efeitos das crises econômicas posteriores e, mais tarde, expandindo suas relações comerciais.[7]

A criação de um ministério específico o MITI (Ministry of International Trade and Industry) foi fundamental para a recuperação econômica do Japão. O papel do ministério começou com a "Política de Racionalização Industrial" que coordenou esforços de cooperação formalizados entre o governo japonês e o setor privado.[1] O MITI também impulsionou a política industrial, e a desvinculação da importação de tecnologia, da importação de outros bens.[1] As leis sobre o capital estrangeiro do MITI (1950) concederam poder ao ministério para negociar o preço, condições e acordos para importação de tecnologia. Este elemento de domínio tecnológico permitiu-lhe promover as indústrias que considerava promissoras. O baixo custo da tecnologia importada permitiu um rápido crescimento industrial. A produtividade foi melhorada por meio de novos equipamentos, de gerenciamento e padronização de processos industriais desenvolvidos no Japão.[5]

Em 1951 o MITI fundou o Banco do Desenvolvimento do Japão que também forneceu ao setor privado capital de baixo custo em longo prazo. O Banco de Desenvolvimento do Japão introduziu o acesso ao Plano de Crédito e Investimento Fiscal (FILP) - um enorme agrupamento de poupanças individuais e nacionais. Na época o Plano de Crédito detinha em sua posse quatro vezes mais crédito disponível que o maior banco comercial do mundo.[8]

O período de rápido crescimento econômico entre 1955 e 1961 abriu o caminho para o "Golden Sixties" (década de ouro japonesa), na segunda década do pós-guerra, que geralmente é associada com o milagre econômico japonês. Em 1965, o PIB nominal do Japão foi estimado em pouco mais de US $ 91 bilhões. Quinze anos depois, em 1980, o PIB nominal subiu para um recorde de US $ 1, 065 trilhões.[9]

O governo japonês iniciou um ambicioso "plano de duplicação da renda" baixando as taxas de juros e impostos para motivar os investimentos na iniciativa privada. Além disso, devido à flexibilidade financeira oferecida pela FILP, o governo expandiu rapidamente o investimento público em infraestrutura: construção de rodovias, ferrovias de alta velocidade, metrôs, aeroportos, sistemas de comunicação, portos e barragens[7].

Tendenciou-se no Japão um modelo de economia mista com uma forte participação centralizada do estado em conjunto com a iniciativa privada. A intervenção e regulação do governo na economia retardou a abertura comercial. A liberalização comercial somente veio depois de garantir um mercado protegido por meio de regulamentos internos que favoreceram produtos e empresas japonesas. Em 1964, o PIB japonês cresceu a uma taxa de 13,9 % conseguida principalmente por meio de um forte modelo protecionista.[10]

A taxa de crescimento do PNB do Japão foi de 10,5% na década de 1950 e 1960, 7,6% em 1970, 4,5% em 1980 e 1990.[11]

 Ver artigo principal: Bolha financeira e imobiliária do Japão

O período de crescimento chegou ao fim com o estouro da bolha nos preços dos ativos japoneses em 1991. Depois da Bolha dos ativos seguiu-se a chamada "Década perdida" (1991-2000). Durante o transcorrer da Década Perdida o Japão viu seu atraso econômico contrastar com o desenvolvimento econômico dos Quatro tigres asiáticos (Coreia do Sul, Taiwan, Hong Kong e Singapura), até que a explosão da Crise financeira asiática, começada no verão de 1997 gerou o temor de uma crise em escala mundial e contágio financeiro mundial. Mais recentemente, em 2010, o Japão viu seu maior rival, a China, o ultrapassar economicamente, se tornando a segunda maior potência do mundo.[12]

  1. a b c «Revisitando o "milagre" japonês». Revista Espaco Academico 
  2. «Como a Alemanha e o Japão se recuperaram tão rápido depois da Segunda Guerra?». Editora Abril. Consultado em 6 de agosto de 2010. Arquivado do original em 3 de fevereiro de 2009 
  3. «Economia». Japão Online. Consultado em 1 de outubro de 2011. Arquivado do original em 17 de março de 2005 
  4. «Japão - Milagre econômico e sacrifício social» (PDF). Gláucia Vale/Fundação Getúlio Vargas 
  5. a b «Globalização e regionalização». Geografia e conjuntura UOL 
  6. ANTUNES, Celso (1991). Geografia e participação: Europa, Ásia, África e Oceania. 4. São Paulo: Scipione. p. 88 
  7. a b «Economia do Japão». Portal São Francisco 
  8. «A crise da economia japonesa dos anos 90:impactos da bolha especulativa» (PDF). Ernani Filho/REP 
  9. «Novos Potências Econômicas no Pacífico». Supletivo Virtual 
  10. «O milagre japonês». Hero factory 
  11. Anne Carol, Jean Carrigues, Martin Ivernel, PRÉCIS D'HISTOIRE DU XX SIÈCLE (título original), HATIER (editora original), 1997 (data da versão original), pág 285
  12. «Japão, um milagre econômico que durou 40 anos». Exame Online 

  • Allen, G.C. Japan’s Economic Recovery. Oxford: Oxford University Press, 1958.
  • Allinson, Gary. Japan’s Postwar History Ithaca: Cornell University Press, 1997.
  • Collisson, Nancy. Examination of the Influence of Japanese Culture and the Failures of Economic Reforms Proposed by Supreme Command Allied Powers (SCAP) Economic Missions from 1947 to 1949, on High Rates of Personal Savings in Japan by Nancy Collisson / EALC MA Thesis. University of Kansas Library (Call No.: ML410.T467 T58 1999), 1996.
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  • Forsberg, Aaron. America and the Japanese Miracle. Chapel Hill: University of North Carolina Press, 2000.
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  • Jansen, The Making of Modern Japan, Belknap, 2000 (ISBN 0-674-00334-9)
  • Johnson, Chalmers. MITI and the Japanese Miracle: The Growth of Industrial Policy, 1925-1975. Stanford: Stanford University Press, 1982.
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  • “Foreign exchange allocation and productivity growth in postwar Japan: a case of the wool industry” Japan and the World Economy 11 (1999): 267-285
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  • Tsuru Shigeto, Japan's Capitalism: Creative defeat and beyond, 1993.
  • Vestal, James. Planning for Change: Industrial Policy and Japanese Economic Development, 1945-1990 Oxford: Clarendon Press. 1993.
  • Van Wolferen, The Enigma of Japanese Power, Vintage, 1990 (ISBN 0-679-72802-3).

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