Como o tema abordado se relaciona com sua biografia

Imagem: Portinari — Tela “Futebol”, de 1935.

Você já se perguntou como o futebol entrou na sua vida? Pode ter sido na bola que você ganhou, ou no convite dos amigos para uma pelada na rua, ou na primeira ida ao estádio, ou naquele domingo que, sem perceber, você ficou vidrado na TV ou no rádio acompanhando uma partida. O menino Portinari, nascido em 1903 em Brodowski, no interior de São Paulo, tinha ao lado de sua casa um terreno onde pôde brincar praticando esse esporte que ainda viria a se tornar o mais popular do país.

Logo cedo, Portinari descobriu que sua vocação era a pintura. Começou a pintar com 9 anos. Com 15, mudou-se para o Rio de Janeiro e lá estudou na Escola Nacional de Belas Artes. Sua criatividade artística passou a ser notada. Já nos anos 1930, alinhado com o movimento modernista, passou a transmitir em suas telas a cultura brasileira, o cotidiano, o povo e todas questões sociais ao seu redor. Não é à toa que várias de suas pinturas trazem de volta recordações de sua infância. A obra “Futebol”, de 1935, é um excelente exemplo.

Vamos observar a pintura que abre o texto? Feita com tinta-óleo, podemos ver vários tons terrosos, vermelhos, cinzas, verdes, azuis e brancos. A tela retrata um grupo de crianças, todas descalças, de diferentes tamanhos, cores de pele e vestimentas, engajadas em uma partida de futebol durante um dia de céu azul num campinho de terra avermelhada com pedaços de troncos, animais e um grande crucifixo. Do outro lado da cerca, um pasto com animais. Há também um cemitério murado e, ao lado, uma casa com um mastro e uma bandeira. Para além da descrição, é a simplicidade da vida no interior que está retratada na tela.

A produção artística de Portinari, bem como sua atuação no campo político e social, ganharam notoriedade internacional. Foi na sua última década de vida que ele produziu uma das maiores obras-primas brasileiras, os murais “Guerra e Paz”, para a sede da Organização das Nações Unidas, em Nova Iorque, nos Estados Unidos. Portinari morreu em 1962, aos 58 anos, no Rio de Janeiro, vítima de intoxicação das tintas que utilizava.

É certo que, em nosso país, o futebol faz parte do quotidiano das pessoas, inclusive de artistas, que o utilizam como temática de suas obras. Foi o que aprendemos hoje com Portinari. Mas há vários outros pintores que, assim como Cândido Portinari, representaram esse esporte por meio de linhas e cores, como por exemplo os artistas modernistas do Grupo Santa Helena. Ficou com curiosidade? Falaremos deles em breve, fiquem ligados!

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Candido Portinari é considerado um dos artistas mais importantes do Brasil. A pintura Café é considerada sua obra prima, com ela o artista recebeu a segunda menção honrosa na Exposição Internacional de Arte Moderna do Instituto Carnegie, em Nova Iorque.

Como ele nasceu em uma fazenda de café, esse tema aparecia de forma recorrente em seu trabalho. Nessa pintura, ele retrata o árduo trabalho diário realizado por mulheres e homens em uma plantação de café. É um retrato realista e ao mesmo tempo simbólico da época em que o café era considerado o ouro verde do Brasil.

Em 1928, Portinari recebeu uma bolsa de estudos para estudar em Paris. Enquanto estava na Europa, o artista absorveu os muitos estilos que conheceu, dos afrescos renascentistas ao cubismo de Pablo Picasso. Curiosamente, nessa época quase não produziu obras, pelas quais foi duramente criticado, e em 1930 voltou ao Brasil.

Em 1933, Portinari voltou à sua terra natal e deu início a um momento incrivelmente prolífico e crucial em sua carreira. Foi nesse período que ele exploraria continuamente ao longo de sua obra: a vida na terra dos cafezais. Embora o artista retrate a paisagem e os trabalhadores em situação de pobreza, suas pinturas não emanam um sentimento de miséria ou privação, mas retratam uma representação fiel do mundo através de seu próprio estilo pictórico. Os corpos arredondados imprimem em nós uma fisicalidade da compreensão inata do artista de volume, algo que lembra as figuras representadas nos murais de Diego Rivera, com tons sombrios que dramatizam sutilmente a natureza da cena.

Portinari queria contar a história de gente humilde, gente que fez a nação. No entanto, seu trabalho não foi aceito a princípio. Onde antes ele havia recebido críticas de que estava “desmoralizando o Brasil” com suas paisagens desoladas, agora as pessoas não entendiam seu trabalho em um nível puramente estético.

Ao transpor para as telas as preocupações com as questões sociais brasileiras do seu tempo, o artista tornou-se o pintor mais  discutido do país. Suas deformações expressionistas provocaram muitas críticas.

Mas entretanto, sua sorte mudaria. Em 1935, sua obra Café um quadro movimentado que mostrava a vida em uma lavoura, com homens e mulheres realizando o árduo trabalho de carregar sacos de grãos de café, recebeu menção honrosa na Exposição Internacional de Arte Moderna do Instituto Carnegie. Essa aclamação no exterior fez os críticos brasileiros darem uma outra olhada em ‘seu’ pintor – desta vez, eles encontraram mais coisas do que gostar na visão da nação que Portinari apresentou no exterior e em seu país.

Café. Candido Portinari. 1935 – Óleo sobre tela (130x195cm) – Localização: Museu Nacional de Belas Artes, Rio de Janeiro

Chamado por muitos de ‘o pintor dos pés grandes’, Portinari ousou ao retratar os trabalhadores com pés enormes e disformes. Assim explicou o artista:

“Pés sofridos com muitos e muitos quilómetros de marcha. Pés que só os santos têm. Pés que inspiravam piedade e respeito. Agarrados ao solo, eram como alicerces, muitas vezes suportavam apenas um corpo franzino e doente. Pés cheios de nós que expressavam alguma coisa de força, terríveis e pacientes”.  

por Roseli Paulino – @arteeartistas

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O lavrador de café, de Candido Portinari, é uma das telas mais representativas do artista, isso porque é considerada um retrato do trabalhador brasileiro, sobretudo o do meio rural.

O tema do cafezal é recorrente na trajetória artística de Portinari, pois ele tinha a preocupação em exibir a realidade brasileira, dando enfoque ao povo e suas mazelas. Além disso, o artista cresceu em uma fazenda de café, onde seus pais, imigrantes italianos, trabalhavam.

Assim, Portinari produz em 1934 a imagem impactante de um homem negro segurando uma enxada em frente a uma lavoura cafeeira.

A pintura, um óleo sobre tela, tem dimensões de 100 x 81 x 2,5 cm e pode ser visto no MASP (Museu de Arte de São Paulo)

Análise detalhada da obra

São muitos os detalhes nessa cena que trazem reflexões valiosas sobre o momento histórico que o Brasil atravessava e a maneira como o pintor enxergava a realidade do país.

O lavrador de café (1934), de Candido Portinari

Podemos considerar a figura retratada como um símbolo do homem do campo que trabalha em uma terra que não é sua, vendendo sua força de trabalho para o dono do latifúndio, no caso um fazendeiro e empresário do café.

É possível compreender o caráter social do trabalho de Portinari analisando as imagens por ele produzidas. Além disso, o fato do artista ter sido um homem bastante comprometido com a luta por igualdade, sendo inclusive membro do Partido Comunista Brasileiro (PCB) e candidatando-se a deputado e senador na década de 40, é outro forte indicador de seus propósitos.

No contexto em que a tela foi pintada, o Brasil produzia café em larga escala para exportação, e, apesar da crise 1929 ter impactado o mercado brasileiro, a produção ainda era bastante lucrativa para os barões do café.

Entretanto, as pessoas que plantavam e colhiam os grãos viviam em condições precárias. O artista revela a intenção de denúncia e de valorização da figura humana por meio de alguns elementos destacados na imagem a seguir.

1. Os pés e as mãos desproporcionais

Candido Portinari exibe um homem forte que toma quase toda a composição da tela. Os pés e mãos do sujeito são retratados de maneira exageradamente grande.

Tal recurso é normalmente associado a influências expressionistas e nos transmite a ideia de que os pés e as mãos são fortes e responsáveis pelo trabalho braçal.

O homem não veste sapatos e esse é outro indício da precariedade da situação a que os empregados estavam sujeitos.

2. A árvore decepada

Ao lado direito do homem há um tronco cortado. O elemento em um primeiro momento pode passar despercebido, entretanto, não foi colocado na cena apenas como parte da composição.

A interpretação dada é que a árvore cortada aparece como um símbolo do desmatamento, que já dava sinais preocupantes no país. Dessa forma, evidencia-se a contradição entre a abundância de uma plantação com milhares de árvores e a crescente destruição de matas nativas.

3. O trem de ferro e a plantação

Portinari inclui no quadro um trem de ferro com quatro vagões que corta a paisagem em diagonal, soltando fumaça pela chaminé.

O trem era o meio de transporte mais utilizado no país e por onde era feito o escoamento da produção cafeeira. Na década de 30, período em que o quadro foi pintado, começa a haver um processo de mudança na malha ferroviária, que nos anos 40 sofre um declínio.

4. A expressão do homem

O sujeito apresenta um rosto com feição preocupada e triste. Podemos dizer que há contrariedade em seu olhar. O semblante parece revelar a frustração e o cansaço decorrentes do trabalho, além de indicar que o trabalhador não estava alienado sobre as injustiças e desigualdade que estava sujeito.

A luz que incide na cena vem do canto esquerdo, para onde o homem está virado de perfil. Esse recurso possibilita a iluminação de sua face, que exibe lábios grossos e nariz largo.

O céu pintado por Portinari é o de um dia comum, com volumosas nuvens que agitam-se no azul.

Cerca de um terço da composição é formada pelo céu e Portinari tinha a intenção de valorizar o ser humano. Assim, o contraste entre o homem de pele escura e o céu com nuvens brancas facilita a observação do rosto do sujeito.

6. A enxada

O retrato do homem é feito no local em que ele trabalha e passa a maior parte de seu tempo. O sujeito posa para a cena segurando o cabo da enxada, que é o seu instrumento de trabalho. Entretanto, aqui ela funciona como um apoio para o descanso.

A enxada é mostrada quase como uma extensão dos braços do trabalhador, exibindo também traços vigorosos. Além disso, podemos notar a sombra projetada que evidencia a incidência da luz vindo da esquerda para a direita, também mostrada na camiseta do homem.

O sujeito por trás do lavrador

O homem que deu origem a figura do quadro O lavrador de café realmente existiu e posou para Candido Portinari em outros trabalhos também. Seu nome era Nilton Rodrigues.

Confira o trecho de uma reportagem feita para o Globo Repórter em 1980 em que Nilton é entrevistado. Apesar da qualidade precária do vídeo, é possível ver a semelhança entre o lavrador pintado no quadro e o homem.

Quem foi Candido Portinari e qual a sua importância?

Nascido no interior de São Paulo, na cidade de Brodowski em 1903, Candido Portinari encontrou na arte uma maneira de expressar suas ideias e conceitos sobre o Brasil, tornando-se uma figura essencial para a arte brasileira, sobretudo dentro do movimento modernista.

Na primeira fase de sua carreira, principalmente, o artista comprometeu-se em retratar os tipos de brasileiros, dando ênfase ao povo simples e procurando criar uma arte nacional, ainda que inspirada nas vanguardas europeias.

Junto com outros artistas do período, ajudou a construir um retrato moderno do país, levando em consideração as particularidades de um povo miscigenado e diverso. Assim, O lavrador de café é uma dessas obras em que tais intenções se revelam com clareza.

Há ainda uma fase dramática do artista, exposta em obras como Retirantes (1944)e Criança Morta (1944). Mas seu trabalho também exibe uma faceta lírica e nostálgica, com pinturas que retratam a simplicidade e doçura da infância, como exemplo nas telas Futebol (1935) e Meninos no balanço (1960).

Portinari foi um dos artistas de maior reconhecimento nacional e internacional, realizando exposições pelo mundo e recebendo prêmios e menções honrosas nos EUA, França e Polônia.

Na década de 50 é convidado a realizar dois grandes painéis para integrar a sede da ONU, em Nova York, o trabalho é intitulado Guerra e Paz (1953-1956) e foi considerado pelo artista sua obra-prima.

Em 1962, Portinari falece aos 58 anos, vítima de problemas de saúde ocasionados por intoxicação de chumbo presente nas tintas que utilizava para trabalhar.

Para saber mais sobre a obra incrível de Portinari, leia:

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